O Movimento Um Milhão de Histórias de Vida de Jovens e o Instituto Religare

O movimento Um Milhão de Histórias de Jovens valoriza a expressão da juventude por meio da articulação de jovens e da divulgação de suas histórias de vida. Co-produtor do Movimento O Instituto Religare, desde 2002, promove o resgate de identidade cultural, desenvolve ações no campo das artes, atua como facilitadora da difusão e inclusão cultural, cria oportunidades e suaviza os dramas que pautam o cotidiano de jovens em situação de risco social. Gerando um aprimoramento intelectual, cultural e filosófico através de suas Oficinas. Pratica-se a educação dos sentidos, e coloca o jovem em contato com idéias que levam a pensar melhor sobre o mundo que o cerca. Um cidadão que tem acesso à produção artística do seu tempo consegue enfrentar com mais clareza a complexidade da sua vida e qualifica-se para aprender a reivindicar melhor a sua participação na sociedade.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Pequena Atriz

Nice Pequena
Na minha infância e pré-adolescência nunca tinha pensado em fazer teatro, nunca tinha feito nem na escola, isso estava fora de cogitação, por ser muito tímida e não ter tido contato nenhum com a arte.

Até que no dia 22 de junho de 2001, por conseqüência de alguns atos fui levada para a febem. Lá existiam alguns cursos, como estreet dance, danças circulares, artes plásticas, teatro entre outros, mas por não ser uma escolha própria eu tinha que fazer os cursos, só não fazia de teatro, havia na unidade algumas meninas que saiam para fazer o curso fora da unidade ensaiavam Dom Quixote no salão do febem-arte no Tatuapé, eu achava legal só pelo fato de saírem da unidade, mas mesmo assim nunca pensei em fazer o curso, mas coisas da vida, em fevereiro de 2002, em uma nova montagem do Dom Quixote, eu e mais algumas amigas fomos chamadas para a nova montagem, eu pela euforia na hora aceitei, nem me perguntei o que seria Dom Quixote.

Chegou o dia do primeiro encontro do grupo, a Valeria pediu para sentarmos em circulo, já fiquei vermelha, na hora que ela falou para cada um se apresentar nossa me deu vontade de sair correndo, minhas pernas tremiam, meu rosto parecia que ia explodir de tão vermelho, minha voz não sai... chegou a minha vez, falei pra dentro e muito rapidamente, não lembrava o rosto de ninguém nem os nomes, esse foi o primeiro contato do grupo, voltei para a unidade sem querer por os pés mais naquele salão, as meninas falaram um monte, teve uma até que chamou uma psicóloga para falar comigo, enfim continuei por achar que isso ajudaria a sair mais rápido da febem por questões de comportamento, e os ensaios continuavam, nossa era um tormento ter que dançar, e ate falar na presença de todos, mas aos poucos comecei a achar aquele mundo de fantasias e de sonhos do Dom Quixote, encantador, e eu queria aquele mundo pra mim, se não na vida real, pelo menos no teatro.

No dia 09 de maio de 2002 minha liberdade chegou era um dia muito feliz eu ia pra casa ficar com meu filho e fazer por ele tudo que ainda não tinha tido a oportunidade de fazer, mas no meio do caminho começou a me dar um vazio, eu não poderia mais continuar com os ensaios e a apresentação estava tão perto, eu não tinha o telefone de ninguém, nem sabia endereço, nada, teria que me conformar: foi só uma fase boa da vida.

No dia das mães fui visitar minha irmã que ainda estava lá, quando menos espero vejo a Valeria, a própria em carne e osso, fui lá mais que rápido falar com ela, e finalmente o convite pra voltar a ensaiar, nossa foi um sonho, contei pra minha irmã, mãe e fui pra casa muito satisfeita.

Continuei os ensaios e chegou o dia do espetáculo por todos esperado, nossa eu não sei descrever o que sentia, só sei que era algo muito forte que vinha lá de dentro com muita força, e o espetáculo começou, foi tudo muito mágico, os meninos estavam super empolgados e emocionados, no final a platéia começou a aplaudir calorosamente, ninguém mais conseguia controlar a emoção, e foi nesse momento que minha semente começou a brotar.

Mas não parou por ai, fizemos varias apresentações nas salas do Sesc. Fui contratada como assistente de arte-educador, queria contagiar a todos, mostrar aos meninos que tinha saída, e foi assim ate 2004, quando sai em outras condições, pela ultima vez da febem. Mas hoje ainda continuo fazendo arte no Religare que foi criado pela Valeria Di Pietro e por nós egressos da febem, e formamos uma linda família, continuo com muita vontade de passar para frente minha experiência, não tenho a pretensão de ser atriz famosa, nada disso só quero ter conhecimento para passar adiante.

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